Para o coordenador do Núcleo de Estudos sobre Criminalidade e Violência (Necrivi) da Universidade Federal de Goiás (UFG), nunca houve uma política sistemática de tentar recolher as armas em Goiás, como houve em outros Estado na época do desarmamento. “Até a polícia local afirmava que desarmar não era algo tão significativo”, afirmou.


De acordo com ele, os dados de morte por arma de fogo mostram que se houver um esforço para tirar mais armas de circulação, o número de homicídio irá cair. Para o estudioso, é necessária uma política de estímulo de entrega de armas que, somada à ação das forças policiais em blitze, melhorará a situação do Estado.


A socióloga e membro do Necrivi Dalva Borges de Souza afirma que a população possui em mãos uma quantidade grande de armas. “E esse é um dado extremamente preocupante. O Estado sempre foi muito relaxado com o estatuto, deixou tudo correr”, disse.


Ela diz ter percebido um maior esforço das forças policiais no sentido de apreender armas de fogo, mas que ainda existe muitas disponíveis. “O Estado tem agido mais. Mas é muito fácil comprar arma”, comentou.


De acordo com a socióloga, um projeto no Congresso, se aprovado, deverá piorar ainda mais a realizada. “Tem um projeto que praticamente quer revogar o Estatuto do Desarmamento, deixando ainda mais fácil o acesso a arma”, disse. A professora se refere ao Projeto de Lei 3722/12. “Quanto mais armas na mão da população, maior será o número de homicídio”, afirmou.

 

A mesma linha de raciocínio é seguida pelo pesquisador do Ipea Daniel Cerqueira. “O personagem central desse enredo (de morte) é a arma de fogo” diz. Ele acrescenta que armas de fogo estão relacionadas a acidentes domésticos, suicídios e crimes decorrentes de conflitos interpessoais. “Existe uma ideia de que o cidadão angustiado com a violência vai se armar e ficar mais seguro, mas é ledo engano. A arma de fogo dentro de casa contribui para aumentar as probabilidades de alguém sofrer homicídio dentro daquela residência.”

 

Cerqueira afirma que a difusão do porte legal de armas também contribui para que mais armamentos cheguem ao mercado, seja por meio de roubos ou de vendas ilegais. Com o aumento da oferta no mercado ilegal, o preço das armas cai e mais “criminosos desorganizados”, como assaltantes, têm acesso a elas. “Cerca de 40% das armas apreendidas em crimes são de procedência nacional e foram registradas”, destaca Cerqueira.


“No Brasil, o uso da arma de fogo como instrumento para perpetrar homicídios atingiu uma dimensão apenas observada em poucos países da América Latina”, diz estudo.

Em Goiás, houve uma variação de 130,6% no número de homicídios causados por arma de fogo no período de dez anos analisado. Só em 2015, foram 2.161 homicídios por arma de fogo no Estado.

O Estado com maior aumento de homicídios por arma de fogo foi o Rio Grande do Norte, com 361,9% de variação. Em segundo lugar vem Tocantins, com 253,8% de aumento. O estudo aponta que os dez Estados onde se observou maior crescimento no uso de arma de fogo em homicídios são localizados no Norte e Nordeste do País, “onde a aumento da criminalidade violenta letal foi mais acentuado”.


Por outro lado, algumas unidades da federação apontam queda, e Rio de Janeiro tem a maior diminuição de mortes por arma de fogo, com queda de 46,8%. São Paulo está em segundo lugar quando se fala na queda, com diminuição de 46,6%. Dentre todos os Estados, seis apresentaram variação negativa no número de homicídios por arma de fogo.

 

Os outros locais com queda foram o Espírito Santo (-8,1%), Mato Grosso do Sul (-8,4% ), Pernambuco (-12,7% ) e Paraná (-2,7% ).

 

Fonte: O Popular